segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Testemunho Vocacional de Irmã Maiara de Jesus

Sou irmã Maiara de Jesus, sou religiosa do Instituto Filhas de Maria Servas dos Pobres, fundado por Santa Dulce dos Pobres. 
Quero partilhar com vocês sobre a minha história vocacional que começou na gestação da minha mãe. Sim, não consigo separar a história dos meus pais com minha história e, sobretudo, com o chamado de Deus em minha vida. 

Digo isso, porque quando a minha mãe estava grávida de mim, ela sofreu um sério acidente, que comprometeu muito a sua saúde e, por consequência, a sua gestação, a tal ponto dos médicos pedirem para que ela abortasse, todavia, apesar dos riscos, a minha mãe resolveu levar a gravidez adiante, mesmo sabendo que talvez eu pudesse nascer com algum tipo de anomalia. 

Graças ao Bom Deus eu nasci com saúde e ao passo que eu ia crescendo meus pais me contavam esse fato que aconteceu em nossas vidas e, então, eu sempre me perguntava: Qual o propósito de Deus para a minha vida? O que Ele quer de mim ? 

Mesmo sem saber, essas perguntas eram de caráter vocacional e que me ajudaram anos mais tarde a buscar pela vontade de Deus para minha vida.

A resposta para essas perguntas chegou no dia da minha crisma, durante a homilia do bispo, que disse: "A vida no Espírito consiste em servir a Cristo, por isso, não tenham medo de viver para Ele numa oferta total de sua vida". Foi aí que eu percebi que queria me entregar a Deus com um coração indiviso e que todas as coisas que fazia não me preenchia totalmente. 

Conversei com meu pároco sobre isso e ele me aconselhou a começar a fazer os encontros vocacionais que aconteciam na minha paróquia com as irmãs e que eu também ajudasse a uma comunidade que precisava de assistência espiritual, afetiva e material. 

Foi nessa comunidade que pude perceber que eu desejava me consagrar a Deus através de um carisma que me permitisse está ao lado dos irmãos que precisam de afeto, de consolo, do pão material e do espiritual.  Partilhei esse desejo com o meu pároco e ele me levou para conhecer a casa mãe das Irmãs Filhas de Maria Servas dos Pobres. Ao chegar lá, meu coração se encheu de alegria e eu tive vontade de já ficar ali, nesse lugar, realmente, "onde está o teu coração, aí está o teu tesouro". 

A Madre Josefa Dulce percebendo essa alegria chamou-me para fazer uma experiência no Instituto, no primeiro momento eu tive medo, porque sou filha única e meus pais não reagiram muito bem quando eu disse que queria ser freira; mas motivada pela força que vem de Deus eu decidi fazer a experiência e hoje eu sei que foi Ele que escolheu por mim e me permite gozar da felicidade da vocação à Vida Consagrada.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Santa Dulce dos Pobres, mulher sensível à palavra de Deus

A palavra de Deus é a fonte primordial de qualquer espiritualidade cristã porque susista a fé, ou seja, a Sagrada Escritura é a raíz da fé que por sua vez, é a base da espiritualidade.

Conforme afirma São Paulo a fé vem da pregação da palavra de Deus (cf. Rm 10, 14-17). Jesus ensina que o autêntico discípulo é aquele que escuta a palavra, a acolhe e a pratica, comparando-o “a um homem sensato que construiu a sua casa sobre a rocha” (Mt 7, 21-27). Portanto, alcançam a felicidade todos aqueles que, ouvem a Palavra de Deus e a observam (cf. Lc 11, 28). Dessa forma, os frutos espirituais são gerados a partir da acolhida da Palavra de Deus, na escuta orante da Sagrada Escritura.

A Sagrada Escritura ocupa lugar central nas reflexões e ações dos Santos. Esses revelam grande zelo e veneração pelos Escritos Sagrados, o que favorecia a intensa intimidade que os mesmos cultivavam com Deus, O conhecimento das verdades divinas ilumina a ação pastoral, espiritual e evangelizadora dos(as) cristãos(as), acarretando um amadurecimento e aprofundamento da fé cristã.

Conhecer e praticar os ensinamentos de Deus é o compromisso de todo batizado. A Palavra transmitida e escrita “é lâmpada para os meus pés e luz para meu caminho”, assim diz o salmo 119. O Espírito Divino inspirou e inspira homens e mulheres que, como discípulos missionários, encarnam a Palavra de Deus promovendo vida. A Palavra de Deus feita carne cura, liberta e salva a humanidade e a faz conhecer o Pai. Esse conhecimento passa pela via da aproximação e de experiência cristã. O desafio dos(as) cristãos(as) é fazer da Palavra de Deus a sua prática, entrando na dinâmica da transformação contínua que acontece mediante uma profunda experiência com Deus.

A Igreja aponta para o testemunho de pessoas que não somente anunciaram a Palavra Divina, mas, sobretudo, centralizaram suas vidas no modo de agir de Jesus. Nesta perspectiva, na vida de Santa Dulce, percebe-se a sua plena identificação e prática com o ensinamento de Jesus: “Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me deste de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me” (Mt 25, 34-36).

Santa Dulce fez das Obras de Misericórdia, expressas no Evangelho de Mateus capítulo 25, o seu programa de vida. Iluminada por estas palavras, não perdia a oportunidade para fazer o bem ao próximo, assumia diariamente a atitude do bom samaritano (cf. Lc 10, 30-37), curvando-se diante das pessoas para curar-lhes as feridas, saciar-lhes a fome e a sede e diminuir-lhes a tristeza e o desespero.

A Palavra de Deus encontrou espaço para ser observada e concretizada na vida de Santa Dulce dos Pobres, porque ela soube acolher as fragilidades dos irmãos e irmãs e enxergar, neles, a figura do próprio Cristo que vinha ao seu encontro nas diversas formas de sofrimento.

Ela dizia:

Muita gente acha que não devemos dar aos pobres a mesma atenção que damos às outras pessoas. Para mim o pobre, o doente, aquele que sofre, o abandonado, é a imagem de Cristo. Sempre recomendo às irmãs, aos funcionários, que vejam no doente que bate à nossa porta o próprio Jesus e, assim, façam a ele o que faríamos se Jesus em pessoa viesse nos pedir ajuda ou socorro. Se olharmos o pobre desta maneira, então todo o aspecto exterior, o estar sujo, cheio de parasitas, com grandes chagas, não nos incomodará, pois, na sua pessoa, está presente o Cristo sofredor (SENA, 2011, p. 47).

 

 

Desejosa de cumprir os ensinamentos do Mestre, nas reuniões com as irmãs FMSP, lembrava:

 

“O grande mandamento é amar o próximo como a si mesmo. O amor não é sentimento, não é emotividade. O amor é fiel, generoso. (...) Quando vocês virem um pobre, se doente, encaminhem-no para o hospital, vejam as suas necessidades. Dêem conselhos, e aí, quando conseguirem a amizade deles, procurem levá-los para Deus.”

 

Neste trecho, percebe-se a solicitude de Santa Dulce para com o próximo, bem como a sua mistagogia, isto é, a sua preocupação de evangelizar e de fazer com que todos adentrassem no mistério Divino. Nesta perspectiva, Santa Dulce não se contentava com uma teoria dissociada da vida prática. A sua evangelização não era marcada pela boa oratória para anunciar a Palavra de Deus. Contudo, anunciava através do testemunho de vida doada, totalmente abnegada de si mesma, de modo que, diversas vezes, repetia e escrevia às irmãs:

 

“Quanto mais nos darmos a Deus, com os nossos sacríficios, renúncias, amando não a nossa vida, mas a daqueles que nos cercam, pessoas tão carentes, chegaremos, por esta doação total, a dizer como São Paulo: Vivo, já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim.”

 

Não se encontra, nos Escritos de Santa Dulce, nenhuma referência teórica no que se refere ao uso da Palavra de Deus. No entanto, sua vida nos ensinou como deve ser colocada em ação a Sagrada Escritura que se não sai do papel, se torna estéril. Toda a vida de Santa Dulce foi uma exegese viva da palavra de Deus.

No documento Vita Consecrata (João Paulo II, VC, par. 82), assim se lê: “Servir os pobres é ato de evangelização e, ao mesmo tempo, sinal de fidelidade ao Evangelho e estímulo de conversão permanente para a vida consagrada”. Desse modo, o “Anjo Bom do Brasil”, anunciava Jesus Cristo com o próprio testemunho de vida e orientava insistentemente as suas filhas espirituais a serem Evangelhos vivos, isto é, que a própria forma de vida das irmãs fosse um anúncio da Boa Nova.

 

 

 

domingo, 23 de agosto de 2020

Agosto, mês vocacional

 SOMOS AMADO(A)S E CHAMADO(A)S POR DEUS

A palavra Vocação deriva do latim – Vocare – que significa Chamado e está intimamente ligada ao nosso existir como pessoa e ao sentido que encontramos desse existir na vida. O Guia Pedagógico de Pastoral Vocacional da CNBB afirma que “na Igreja, ‘vocação’ é o apelo de Deus que chama uma pessoa para uma missão ou serviço”.

A partir desta definição podemos concluir que vocação é “um inefável diálogo entre Deus e o homem, entre o amor de Deus que chama e a liberdade do homem que no amor responde a Deus” (PDV 36). O chamado ou eleição divina se manifesta em nosso dia a dia por meio de nossa livre e amorosa resposta e adesão ao projeto de Deus, por meio do seguimento a Jesus Cristo. Desta forma, é importante ter presente que não somos nós que escolhemos seguir a Jesus Cristo, mas somos escolhidos(as) pelo Pai e chamados(as) por seu Filho.

É possível, então, afirmar que a vocação está relacionada ao convite que Jesus Cristo dirige a cada pessoa indistintamente: “Vem e segue-me” (Mt 19,21); “Vinde em meu seguimento, e farei de vós pescadores de homens” (Mt 4,19); “Se alguém quiser me servir, siga-me” (Jo 12,26).

No chamado de Jesus há dois aspectos: ir e seguir (cf. Mt 9,9; Mc 8,34; Lc 18,22; Jo 8,12).

 “Vem” é o chamado: o convite pessoal a estar/permanecer com Jesus e tornar-se discípulo e discípula do Mestre.

 “Segue-me” é a missão: o seguimento da prática de Jesus.

Portanto, não é demais relembrar que a vocação nunca é finalizada na pessoa, mas é sempre em vista de uma missão (evangelizar) e para uma comunidade concreta. O aspecto da realização pessoal existe, fomos criados e chamados à vida para sermos felizes, mas essa realização não tem um fim em si mesmo.

A missão decorrente de nossa resposta vocacional como prática do seguimento de Jesus se desenvolve no mundo, para o mundo, e tem um compromisso efetivo com o bem da pessoa humana. A resposta ao chamado de Jesus “exige entrar na dinâmica do Bom Samaritano (cf. Lc 10,29-37), que nos dá o imperativo de nos fazer próximos, especialmente com quem sofre, e gerar uma sociedade sem excluídos, seguindo a prática de Jesus, que come com publicanos e pecadores (cf. Lc 5,29-32), que acolhe os pequenos e as crianças (cf. Mc 10,13-16), que cura os leprosos (cf. Mc 1,40-45), que perdoa e liberta a mulher pecadora (cf. Lc 7,36-49; Jo 8,1-11)” (DAp 135).

Vocação não é isolamento, busca de satisfações, realização pessoal ou de projetos pessoais. Vocação é dar a vida pela defesa da vida (cf. Jo 10,11; 15,13), ou seja, vocação é amar. Um Deus que é amor, chama-nos justamente porque nos ama, e nos chama para amar: “Deus te ama. Nunca duvides, apesar do que te aconteça na vida. Em qualquer circunstância, és infinitamente amado” (ChV 112). Deus vê nossa beleza, somos preciosos aos seus olhos (cf. Is 43,4). “Seu amor é tão real, tão verdadeiro, tão concreto que nos oferece uma relação cheia de diálogo sincero e fecundo” (ChV 117).

Existem várias vocações?

Quando começamos a compreender o verdadeiro sentido da palavra vocação nos damos conta que ela vai se desdobrando em vários aspectos. Para entendermos melhor, vamos comparar com uma flor: se quero presentear uma pessoa com uma rosa não posso dar uma pétala e dizer que dei uma rosa. A rosa é feita de várias pétalas que, juntas, formam o botão de rosa. Assim também acontece com a vocação.

Na convivência cotidiana com Jesus e no confronto com os seguidores de outros mestres, os discípulos logo descobrem duas coisas bem originais no relacionamento com Jesus. Por um lado, não foram eles que escolheram seu mestre, foi Cristo quem os escolheu. E, por outro lado, eles não foram convocados para algo (purificar-se, aprender a Lei...), mas para Alguém, escolhidos para se vincularem intimamente à Pessoa dele (cf. Mc 1,17; 2,14). Ver, também, Documento de Aparecida (DAp), n. 132.

 “Todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz partícipe de sua missão, ao mesmo tempo que o vincula a Ele como amigo e irmão. Dessa maneira, como Ele é testemunha do mistério do Pai, assim os discípulos são testemunhas da morte e ressurreição do Senhor até que Ele retorne. Cumprir essa missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é a extensão testemunhal da vocação mesma” (DAp 144).

Existe uma única vocação: a vida. O Papa Paulo VI na Populorum Progressio afirmou: “toda vida é vocação!” (PP 15). Essa única vocação é “marcada” por uma grande vocação, a vocação cristã (cor da rosa) de onde brotam várias dimensões, as vocações específicas (pétalas).

Vocação Cristã ou vocação batismal

A vocação cristã é o chamado que recebemos pelo Batismo para assumir, conscientemente, fazer parte da grande família dos filhos e filhas de Deus e a viver como “criatura nova” em Cristo Jesus. Dito de outra forma: a vocação cristã é o chamado a seguir Jesus Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Mc 1,17; Jo 14,6).

Pelos sacramentos de Iniciação Cristã (Batismo, Eucaristia, Crisma), dos quais o Batismo é a porta de entrada, recebemos essa vocação cristã comum. É por esse sacramento que fazemos nossa opção fundamental como cristão e comprometemo-nos com a nossa comunidade.

Com o Batismo somos incorporados ao Povo de Deus, comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus. Uma Igreja onde todos, pelo Batismo, vivem a comum dignidade de filhos e filhas adotivos do Pai, chamados à santidade e à participarem, com seus diferentes carismas, da vida e missão de Jesus Cristo, assumindo a dinâmica do discipulado.

Talvez, algumas pessoas se perguntem sobre a necessidade destas afirmações que podem soar um pouco complicadas. Mas, elas querem simplesmente dizer que na grande família dos filhos e filhas de Deus o que conta não é ser isto ou aquilo (bispo, padre, freira, diácono, cristão leigo), o que conta realmente é nossa condição de filhos e filhas de Deus, membros da Igreja (assembleia de chamados), seguidores e seguidoras de Jesus Cristo, chamados e chamadas a viver no caminho da santidade.

Vocações específicas

Anteriormente comparamos a vocação batismal com a cor que dá vida e beleza à rosa; todas as pétalas nutrem-se de uma única fonte de cor, e mesmo com diferentes tonalidades entre as pétalas não podemos dizer que uma se sobressai. As várias pétalas têm jeito e estilo próprio, mesmo sendo muito parecidas entre si formam um conjunto diverso, mas tão harmonioso que vemos a rosa como uma coisa só, e não um amontoado de pétalas.

Na questão vocacional é a mesma coisa. A partir da riqueza da diversidade – que a Igreja é continuamente chamada e impulsionada a viver pela ação do Espírito – que nascem as vocações específicas como formas diferentes de responder e viver um único e mesmo Amor: o seguimento de Jesus e o assumir sua missão.

A partir dessa premissa compreendemos que a vocação específica está relacionada às escolhas de vida que cada batizado e batizada assume na vivência desse único Amor. Elas são divididas em três grandes dimensões: Vocação do Cristão Leigo e Leiga, Vocação à Vida Consagrada, Vocação dos Ministros Ordenados. Em cada dimensão há diferentes aspectos, pois dentro de cada conjunto de vocação específica a pessoa é chamada a fazer escolha por uma, encontrar o seu jeito e sua forma/cor de viver a beleza de ser cristão e amar.


CMOVIC-CNBB
Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Reflexões de Santa Dulce dos Pobres



Na lª Comunhão «Ele» se faz «Um» conosco e d'essa união admirável é que nos vem toda aquela força espiritual que nos leva a aceitar, sofrimento, incompreensão, problemas, tudo enfim, porque temos a certeza que «Ele» está comigo, não estou trabalhando nem sofrendo sozinha … São coisas que só quem as vive pode compreender. Muitas pessoas reclamam que faço errado, protegendo, defendendo os pobres... coitados dos irmãos pobres!! Só quem convive diariamente com eles, pode compreender quanto eles sofrem, quanto eles são carentes da palavra de Deus, de uma mão amiga, que se estenda à mão d'ele. Muitas pessoas me censuram dizendo que faço demais, que vicio os pobres. Quem de nós que se encontrasse na mesma situação d'eles e não queria receber também tudo? o carinho, o amor de Deus, o pão para matar sua fome e a roupa para cobrir a sua nudez. Pouco me incomodam o que dizem de mim, o importante é que vejo Deus, no meu irmão o pobre, e por Ele daria até a própria vida. Quantas vezes as lágrimas me chegam aos olhos, o meu coração dói, quando vejo tanta miséria em volta de mim. Nesta hora, me dá vontade de gritar, de falar a todos que tem tudo, todo conforto, a aqueles aos quais nada lhes falta que vivem em abundância sem se lembrar que bem perto d'eles, milhões estão com fome, doentes, nas sarjetas das ruas. Por favor me ajudem! Me deem o necessário para tirar esses nossos pobres irmãos do barraco coberto de papelão ou de latas velhas, com fome, desempregados, doentes, a família passando fome. Se houvesse mais amor e menos egoísmo o mundo seria outro. Neste nosso trabalho a doação chega ao ponto de nos esquecermos de nós próprios e vivermos a vida dos nossos irmãos. Os problemas d'eles tornam-se nossos, a vida d'eles a nossa vida. Chegamos ao ponto como dizia S. Paulo: «Vivo, já não eu, é Cristo que vive em mim», na pessoa do irmão carente e abandonado. Quando estamos doentes temos tudo: os amigos, a Congregação nos arranjamos. E os pobres? Quem eles têm por eles? Só nós, exclusivamente nós. A minha vocação é o apostolado. O meu carisma é o trabalho com os pobres, procurando salvar as suas almas, levando-as para Deus.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Testemunho Irmã Maria Gorette da Silva

Sou Irmã Maria Gorette da Silva, tenho 66 anos de idade e 36 anos de vida Consagrada. Sou do município de Lagoa Nova, Rio Grande do Norte. Eu ouvir falar sobre Irmã Dulce no programa Caso Verdade (Programa de TV  que  divulgava o trabalho da freira baiana e, assim, obtinha de todo Brasil, muitas doações para manter as Obras Sociais).

Em 23 de novembro de 1983 cheguei a Salvador para encontrar-me com Irmã Dulce e, assim, dá início à minha experiência de voluntária no Hospital Santo Antônio. Antes, eu tinha enviado uma carta para Irmã Dulce, relatando o meu desejo de compartilhar da missão de serviço aos pobres mais carentes da sociedade. Além disso, eu  também aspirava viver a Vida Consagrada.  Eu havia feito uma experiência vocacional em uma Congregação existente na minha cidade natal. Mas fui convidada a sair da Congregação porque quebrei um dos braços e fui tida como uma pessoa deficiente (naquela época, na congregação em que eu fiz a experiência vocacional, as jovens não podiam apresentar nenhuma limitação física para entrar ou permanecer no convento); por isso fui mandada embora.

Contudo, desejosa de dar continuidade a  minha caminhada vocacional, decidi  viajar para a Bahia e ver mais de perto o trabalho e missão de  Irmã Dulce.  Ao chegar no Hospital Santo Antônio, me deparei com uma cena inesperada: uma multidão de pessoas carentes (pobres) rodeava Irmã Dulce. Naquele momento, era quase impossível chegar até ela. Fiquei muito triste, desanimada e pensei comigo: A Irmã Dulce nem me deu atenção, amanhã mesmo volto para casa... Comentei esse pensamento com algumas voluntárias das Obras Sociais e uma delas me disse: Certamente Gorette, Irmã Dulce pensou que tu eras um dos pobres que teria ido pedir ajuda. Fiquei muito pensativa..., e o desejo de voltar para minha casa imperava. Mas, esta ideia logo foi desfeita quando Irmã Dulce chegou na sala onde eu estava e se dirigiu a mim dizendo: Você é Gorette, a moça que veio do Rio Grande do Norte? Minha filha, seja bem vinda, o trabalho é difícil, mas estamos aqui para salvar almas.  Neste momento uma grande alegria invadiu o meu coração, e, a partir daquela hora, esqueci o plano de voltar para casa.

            Certo dia, irmã Dulce partilhou comigo e outra irmã de caminhada que, nós fomos um grande presente de Deus para ela, porque há muito tempo ela vinha pedindo ao Santo Espírito de Deus pessoas que pudessem se dedicar ao trabalho com os pobres, porque as atividades, com o passar do tempo, cresciam, constantemente.  Ela precisava de voluntários que além de dar uma ajuda braçal pudessem também trabalhar para levar aquelas almas para Deus. Ela desejava de pessoas que cuidassem do corpo, mas também pudessem cuidar da alma daqueles pobres.

Daí surgiu a nossa Associação (atual Instituto) das Irmãs Filhas de Maria Servas dos Pobres. Depois de rezar muito, irmã Dulce decidiu fundar a nossa associação para amar e servir a Deus na pessoa dos Pobres. Assim, no primeiro momento fiquei com outra jovem morando no Hospital Santo Antônio. A  nossa rotina não era nada fácil. Alem de trabalharmos muito sofríamos muitas  humilhações e perseguições por conta do desejo de compartilhar da missão de Irmã Dulce e de viver uma vida de intimidade com o Mestre. Irmã Dulce sempre nos pedia que tivéssemos muita paciência.  E em suas orações ela implorava ao  Espírito Santo ajuda  para resolver tudo com  sabedoria e  prudência.

Em 17 de Janeiro de 1984, Irmã Dulce levou: eu, Ir. Aurinete e Ir. Josefa Dulce para o Convento construído dentro do Centro Educacional Santo Antônio na cidade de Simões Filho-BA, que na época funcionava como orfanato. Esta foi a feliz data da fundação de nosso Instituto.

Sou muito feliz por ter conhecido irmã Dulce e minha vocação se deve muito às crianças do orfanato Santo Antônio. Quando, às vezes,  eu desanimava e queria deixar tudo; olhando para os rostinhos daquelas crianças tão vulneráveis eu pensava... não senhor, não posso deixar a missão que o senhor me confiou de cuidar dessas crianças. Tenho que ajudar irmã Dulce. Então eu me fortalecia na oração e continuava a missão.

Um conselho que a Irmã Dulce deu que nunca esqueci foi a sua última fala antes de sua páscoa, isto é, de sua passagem definitiva para o Reino celestial. Ela se encontrava no hospital, eu fui visitá-la, então ela deu o seguinte aconselhamento: “Minha filha, você vai passar por muitas dificuldades. Coragem! Não desista da Vida Consagrada. Vale apena viver a serviço do Reino de Deus.”

 

 

 

 

terça-feira, 9 de junho de 2020

Santa Dulce e Santo Antônio: Uma amizade espiritual


Santa Dulce dos Pobres cultivou uma profunda amizade espiritual com Santo Antônio de Pádua. Desde criança, tinha uma devoção especial a este santo português, recorrendo sempre ao amigo espiritual. Era acostumada a conversar com ele em sua casa, suplicando-lhe ajuda e conselhos. A este santo de popularidade mundial, Irmã Dulce delegou os serviços de tesoureiro espiritual da obra social que o Senhor lhe confiou.
Seguindo o modelo de vida de Santo Antônio de Pádua, a religiosa faz do amor pelos pobres e pela pobreza o ideal da sua missão. Ela demonstra que a caridade aos irmãos e irmãs marginalizados pertence ao caminho da salvação do Reino de Deus. Santa Dulce, assim, ensina que a acolhida e o cuidado para com os pobres ajuda-nos a compreender e a realizar o projeto de Deus, pois, os empobrecidos, marcados pela dura exclusão social, interpelam e evangelizam os cristãos(as).
A religiosa baiana compreendia que o serviço e a solidariedade para com eles oportunizava uma forte experiência místico-espiritual com o Divino. Por isso, insistia com suas filhas espirituais a enxergarem no rosto do pobre, a face de Cristo, ou seja, a verem o mistério do Deus encarnado que, com misericórdia e compaixão, acolhe e cuida das misérias humanas.

Uma história que conta a especial amizade de Santa Dulce com Santo Antônio

Era muito tarde, uma noite de inverno na Bahia, com aquele friozinho, quase uma brisa muito forte, que fazia com que os baianos retirassem seus agasalhos dos armários. Para dezenas de pessoas que ficavam do lado de fora do Convento Santo Antônio, no aguardo de uma ajuda de Irmã Dulce, minadas pela doença e pela desnutrição, apesar de terem recebido uma sopa reconfortante, a temperatura era verdadeiramente cruel.
“Irma Dulce estou com frio!” Gritava um.
“Irmã, pelo amor de Deus, me dê um cobertor.” Ouvia-se outro lamento.
Da janela do seu quarto, depois de sob protestos das demais religiosas, ter que subir para se agasalhar, devido aos problemas pulmonares, ela atirava todos os cobertores que encontrava.
De repente, uma das freiras lhe avisou:
“Irmã Dulce, não temos mais nenhum cobertor nem lençol, a não ser que retiremos dos doentes do hospital.”
“Então” disse Irmã Dulce, “vamos tirar primeiro meu lençol e cobertor de cama, que eles precisam mais do que eu.”
Dizendo isto, sacou as peças e as lançou pela janela a uma pobre que trazia duas crianças pelas mãos.
“Deus lhe pague, irmãzinha! Deus lhe pague!”. Repetia a mulher, agora pelo menos, podendo agasalhar seus filhos.
Do lado de fora o alarido aumentava cada vez mais.
Quase que desesperadamente Irmã Dulce desceu para a capela e, diante da imagem de Santo Antonio, lhe disse: “meu querido protetor, vós que nas noites de inverno, saia pelas vilas da Itália a agasalhar os mais deserdados, sempre encontrando maneira de protegê-los, voltai vossos olhos para os pobres da minha terra, que precisam tanto quanto os da sua época, dando-me uma solução urgente para atendê-los”. Dizendo isto fechou os olhos e continuou a rezar. De repente, ouviu-se o barulho de um carro freando e três baques surdos, na parte interna do pátio do convento.
Assustada ela correu para a rua, a tempo de ver se afastando o motorista que dirigia a Rural Willys. Aquele rosto lhe pareceu familiar, ficou intrigada, mas teve que abrir os imensos fardos, que estavam cheios de cobertores e imediatamente os distribuiu entre as pessoas da porta.
Imediatamente após, voltou para agradecer a Santo Antonio e ao levantar os olhos para o alto, reconheceu naquele rosto, que agora trazia um leve sorriso, a face do motorista que antes vira.
Nesta noite o santo teve incluído no seu currículo, mais uma função: a de motorista.

(trecho extraído do livro “Irmã Dulce dos Pobres” Maria Rita Pontes, 17ª edição).

domingo, 31 de maio de 2020

Trezena de Santo Antônio



Se milagres desejais recorrei a Santo Antônio!


Todo dia 1º de junho de cada ano as Irmãs, Filhas de Maria Servas dos Pobres, tem a feliz tradição de rezar a trezena de Santo Antônio. Seguindo os passos de Santa Dulce dos Pobres, as irmãs que carinhosamente são chamadas de Irmãs Dulcianas, ou, simplesmente, Irmãs de Irmã Dulce alimentam a sua devoção e amor a esse santo universal a quem Dulce dos Pobres tanto recorreu e tinha uma particular amizade espiritual. Portanto, mesmo em meio à situação caótica pela qual estamos enfrentando, por conta da pandemia do coronavírus não deixaremos de recorrer ao auxílio de Santo Antônio e com muito fervor rezarmos com o(a)s devoto(a)s os louvores a Deus em honra a Santo Antônio. Pois bem, neste ano, mesmo à distância estaremos unido(a)s em oração, através dos meios de comunicação. 
A trezena este ano tem como tema: Santo Antônio modelo cristão, ajuda-nos a acolher o próximo. Os devoto(a)s com as suas capelinhas de Santo Antônio, em suas residências, rezarão em união com as Irmãs FMSP; e acompanharão pelas redes sociais (facebook, yotube, instagran) a transmissão do tema do dia que será explanado por um convidado. No dia festivo a santa missa  em honra a Santo Antônio será transmitida às 16h, direto da capela Santo Antônio, no convento das Irmãs FMSP em Simões Filho-BA.

sábado, 4 de abril de 2020

Santa Dulce dos Pobres: anjo bom da Bahia e do Brasil que viu, sentiu compaixão e cuidou do Cristo pobre e marginalizado


A compaixão é o sentimento que nos lança ao encontro do outro e permite-nos sentir e compartilhar as dores e tristezas do irmão, tornando o seu sofrimento menos pesado e minimizando a sua infelicidade. Ora, compaixão é sinônimo  de altruísmo. A caridade e atenção para com a dor alheia nos faz reconhecer-nos como filhos(as) de Deus e por isso, irmãos e irmãs de todos. Assim sendo, temos a responsabilidade de cuidar um do outro, pois somos filhos(as) do mesmo Pai Eterno que a tudo e todos criou com imensurável amor.
Santa Dulce dos Pobres é modelo, é exemplo de compaixão. No seu trabalho apostólico junto a população empobrecidade da cidade de Salvador-BA, muitas foram as ocasiões em que identificamos o ver, o sentir compaixão e o cuidado que a freirinha baiana tinha para com aquelas pessoas pobres, enfermas e marginalizadas. Como ela própria dizia: "Aquele  que bate à nossa porta, em busca de conforto para a sua dor, para o seu sofrimento é um outro Cristo que nos procura." Portanto, aqui é revelada a mística de Santa Dulce dos Pobres. Ela cuidava dos enfermos e empobrecidos, pois enxergava em cada um deles a imagem do próprio Cristo. Assim, tudo que ela fazia a eles era como se estivesse fazendo ao próprio Cristo. Sempre orientava às suas filhas espirituais, as Irmãs Filhas de Maria Servas dos Pobres, que sempre quando atendesse uma pessoa empobrecida que visse nela a pessoa de Jesus Cristo, nosso esposo celestial. Assim ela dizia: "Se a gente ama a Deus como Ele deve ser amado, então a gente faz tudo por Ele, ou seja, por aquele que representa Deus: o pobre, o carente, o necessitado."
A virtude da caridade potencializa a dimensão do cuidado, pois, a pessoa caridosa de uma forma espontânea cuida dos outros com zelo e responsabilidade, sentindo-se responsáveis pela suas vidas, de modo a traduzir o amor em gestos concretos de cuidados para com o próximo. A Santa Dulce dos Pobres viveu isso com autencidade, pois, em toda a sua vida, ver-se o quanto ela cuidou daqueles que estavam à sua volta, cuidando-os na sua totalidade, a saber:
• Da dimensão física: oferecendo aos irmãos e irmãs o cuidado necessário para com o corpo em suas necessidades de alimentação, moradia, saúde , etc.
• Na dimensão espiritual: cuidando da vida espiritual das pessoas, rezando por elas e preocupando-se que todos os assistidos pudessem ter um encontro com a pessoa de Jesus, fazendo momentos de evangelização e catequização, sobretudo para as crianças e as famílias das favelas e periferias da cidade de Salvador e adjacências.
• Na dimensão intelectual: cuidando da educação das crianças e adultos, sempre os incentivando para que pudessem desenvolver seus talentos e dons no âmbito profissional.
• Na dimensão psíquica e afetiva: sendo para os irmãos e irmãs uma presença maternal. 
Logo, Santa Dulce compreendia que: "Se o pobre representa a imagem de Deus, então nunca é demais o que fazemos pelos pobres." Desta forma ela nos ensina que ser filhos(as) de Deus sendo irmãos(as) de todos é assumir o compromisso de anunciar o Reino de Deus presente no mundo, de modo a valorizar e devolver a dignidade humana àqueles que são marginalizados. Santa Dulce, através da oração, cultivava uma intimidade com o Pai com vistas a manter uma fraternal relação com o próximo, tendo o olhar sensível às necessidades daqueles que estavam ao seu redor, reconhecendo-os como irmãos e irmãs, filhos(as) do mesmo Pai. 
Verifica-se que Santa Dulce encarnou na sua vida o que nos ensina Jesus na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). A caridade para Santa Dulce mais do que dar coisas era dar-se aos irmãos(as), doar-se a ponto de esquecer-se de si mesma para colocar-se à disposição do outro. Como o Bom Samaritano, ela servia a todos sem distinção e, assim, testemunhava que ser Cristão é viver como o próprio Cristo vivia.Desde modo ela afirmava: "o importante é o amor, a caridade. Não apenas a esmola, mas a caridade de uma pessoa pela outra, sem distinção. Em parte, a ajuda a resolver o problema, mas todos devem se ajudar reciprocamente. Aqui no nosso centro não nos limitamos a dar esmolas, mas nos esforçamos para oferecer às pessoas a possibilidade de melhorarem de vida. Se houvesse mais amor o mundo seria outro; se nós amássemos mais, haveria menos guerra. Tudo está resumido: dê o máximo de si em favor do seu irmão, e assim haverá paz na terra." Assim, observa-se que Santa Dulce dos Pobres era uma pessoa altruísta e que sentia compaixão para com o próximo sem distinção, pois ela enxergava em cada pessoa que ia ao seu encontro a imagem de Cristo, nosso salvador. 

   

Hino da campanha da fraternidade 2020