segunda-feira, 23 de setembro de 2019

AMAR E SERVIR


Espiritualidade do Instituto Filhas de Maria Servas dos Pobres

Uma espiritualidade vinda da personalidade de Irmã Dulce
   

A fonte de toda a nossa ação é a oração, é nela que encontramos as graças necessárias para bem viver nossa missão. Uma vez que a oração é para nossa alma como o ar para nosso corpo, como dizia a nossa mãe fundadora, a beata Dulce, não podemos desmerecê-la em momento algum.
Cultivamos o espírito de oração nos trabalhos, ocupações, festas, realizações, de modo que nada disso impeça que interiormente estejamos unidas a Deus. O cultivo dessa intimidade se dar em um processo; hoje a gente sai da oração alegre e satisfeita porque rezou bem, amanhã pode ser que não se dê o mesmo, o importante é perseverar. Sem oração não podemos nos manter fiéis a nossa vocação, ela é necessária para nossa santificação.
Participação e influência singulares teve a mãe de Jesus e São Francisco de Assis na vida e espiritualidade de ir. Dulce dos pobres. Maria é o modelo de serva, discípula missionária que soube acolher a vontade de Deus em sua vida. As cores do hábito de irmã Dulce, azul e branco, lembrava a Mãe do céu. Virgem Santíssima a quem irmã Dulce teve grande amor e devoção. A ponto constantemente orientar às suas filhas espirituais exclamando a seguinte frase: "Queridas filhas se imitarmos as virtudes de nossa Mãe do céu, a humildade, a caridade, o silêncio, a aceitação da vontade de Deus, seremos realmente felizes." Assim Maria sempre foi a mestra por excelência da beata Dulce do pobre, e desde modo ela confia a Nossa Senhora o Instituto o qual fundou, confiante de que as suas filhas espirituais tenham grande veneração e devoção a mãe de Jesus que também é nossa.
irmã Dulce também bebe das fontes franciscana para que a sua oração seja uma extensão do amor a Deus na pessoa dos mais pobres de nossa sociedade. Com espírito franciscano ela busca ver no nosso irmão pobre, enfermo e marginalizado a face do Jesus sofredor. Assim ela diz para as suas filhas: " Queridas filhas, devemos cultivar o espírito do seráfico pai Francisco, integrando-o em nossa vida e seguindo o seu exemplo de viver e propagar o Reino de Deus."

COMO VIVEMOS HOJE ESTA ESPIRITUALIDADE

Nossa vida de oração

·            Rezamos diariamente a Liturgia das horas 
·            Todos os dias contemplamos um dos mistérios do rosário e no sábado, contemplamos  todos os mistérios.
·            Todos os dias fazemos adoração ao Santíssimo Sacramento
·             Cada irmã tem o seu horário de meditação da Sagrada escritura.

·            Procuramos desenvolver todas as nossas atividades em união com Deus, fazendo do trabalho uma oração como nos orientava a madre fundadora, beata Dulce dos Pobres.

Nosso Carisma

"Nosso carisma é amar a
 Deus na pessoa do pobre."
 Bem Aventurada Dulce dos Pobres

O carisma é um DOM, uma GRAÇA, portanto somos chamadas a amar esse "DOM" que é dado a nós por Deus, personificado em Cristo, nosso Senhor.
Desde modo, sendo Jesus o grande dom que Deus Pai nos concedeu, buscamos ama-lo sem reservas, amando-o, sobretudo na pessoa do pobre, enfermo e criança em situação de abandono. Nestas pessoas buscamos contemplar a face do Cristo sofredor e assim acolher aos pobres mais mais pobre de nossa sociedade, sendo sal e luz na vida dos mias carentes. Pois o próprio mestre diz: "Então dirá o rei aos que estiverem à sua direita: `Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me deste de comer, Tive sede e me deste de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestirdes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me.`" (Mt 25, 34-36)
Logo, "... se a gente ama a Deus como Ele deve ser amado, então a gente faz tudo, tudo por Ele, ou seja, por aquele que representa a Deus: o pobre, o carente, o necessitado." Beata Dulce

Portanto, levando em consideração os ensinamentos do mestre, o nosso lugar de missão é:
·            Em hospitais e em qualquer ambiente onde a dor esteja presente - Buscamos levar consolo e alento a quem sofre a dor física, mas também a espiritual. As irmãs buscam ser presença de Deus na vida de quem está acometido de alguma enfermidade, levando-os a assumir e enfrentar sua doença. Como dizia a Beata Dulce dos Pobres: "Os doentes tem um tesouro nas mãos: o sofrimento quando oferecido a Deus. Quantas pessoas estão mais doentes na alma, que no corpo?" 
·            Educação - As irmãs atuam na área da Educação, buscando educar crianças, jovens e adultos, tendo sempre em vista a sua comunhão com Deus. Têm a missão de aproveitar todos os espaços educativos para formar a pessoa em sua totalidade.
·            Evangelização através da catequese nas periferias e favelas, visitando as famílias e conduzindo-as à Deus.
A nossa missão é amar a Deus e servi-lo na pessoa do pobre. Irmã Dulce fez de sua vida uma prática do Evangelho, integrando àquilo que professava às suas atitudes.A lei divina é resumida na caridade, que é a síntese da perfeição. Cumprindo-a progrediremos na graça e no exercício de todas as virtudes. Esta é a maior prova de amor para com Deus e o próximo  e que deve resplandecer em todas as ações dos discípulos de Jesus os quais devem se preocupar em fazer caridade e não somente falar de caridade.


domingo, 22 de setembro de 2019

Nossa Fundadora

BEATA DULCE DOS POBRES: UMA MULHER PLENAMENTE DE DEUS E TOTALMENTE DO POVO

Maria Rita Lopes Pontes, posteriormente conhecida como Irmã Dulce, naceu no dia 26 de maio de 1914 e foi batizada no dia 13 de dezembro do mesmo ano, dia de Santa Luzia. Ela é a segunda filha entre os cinco filhos do casal Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria Pontes que residia na cidade de Salvador – Bahia, na rua São José de Baixo, bairro da Lapinha.
Em 1921, Maria Rita, com apenas seis anos de idade, fica órfã de mãe. Em seguida, Regina, a sua irmã recém-nascida que não resistiu à falta do aleitamento materno, também falece. Assim, desde cedo, ainda sem compreender bem a morte e o sofrimento, Maria Rita experimenta a dureza da separação, aprendendo a ser resiliente frente aos desafios que a vida apresenta.
Com a morte de Dona Dulce Maria, Augusto Lopes Pontes e seus filhos foram morar num sobrado em cima do armazém Porto Rico, na Rua Quitandinha do Capim, bairro de Santo Antônio, centro histórico de Salvador. O pai de Maria Rita contou com a ajuda de três irmãs consaguíneas para cuidar e educar as crianças. Elas eram bastante religiosas, ofereceram uma concreta formação cristã aos sobrinhos e os incentivavam a ter uma vida de oração, de veneração a Virgem Maria e de compaixão para com o próximo.
Maria Rita era uma criança um pouco “levada”, gostava de guerrear com seus irmãos, brincando de jogar sementes de mamona uns nos outros. Era apaixonada por futebol, gostava de empinar pipas, além de brincar de bonecas e cantigas de roda. Ela teve uma infância tranquila como qualquer outra criança de sua época e soube viver bem esta etapa, fazendo coisas próprias de sua fase infantil.
Porém aos treze anos de idade a sua rotina começou a mudar. Uma de suas tias, ao observar a sua vida de travessuras, inquietou-se e a chamou para conversar, dizendo que ela já era uma mocinha e que precisava enxergar o outro lado da vida. Assim, Maria Rita renunciou ao futebol dos domingos, pois era acostumada a ir com o pai assistir toda semana o jogo do Ipiranga, e passou a acompanhar a tia nas visitas a pessoas enfermas e empobrecidas de alguns dos bairros do município de Salvador.
Este primeiro contato com a miséria suscitou algo muito profundo em seu coração; a partir daquele momento ela inquietou-se e se sensibilizou com o que tinha presenciado e experimentado nas visitas pelas favelas da cidade. Desde então, passou a acompanhar sua tia em todas as visitas e não pensava em outra coisa a não ser na difícil situação dos pobres. Estes, por sua vez, passaram a procurá-la com frequência em sua residência.
Ela atendia os empobrecidos fazendo compressas e curativos, concedia remédios, dava banho nas crianças, oferecia roupas usadas que conseguia com os vizinhos e, além disso, dava comida aos famintos e algum dinheiro para aqueles que precisavam. Era interessante como a alegria de assistir a uma partida de futebol tinha sido substituída pelo contentamento de poder cuidar e ajudar o próximo.
Seu pai era cirugião dentista, um homem muito generoso que, aos poucos, foi acolhendo aquela atitude da filha que revelava maturidade e compaixão. Porém, sempre a advertia: “Minha Filha, isto aqui não é portaria de São Francisco!” Esta fala já é um prenúncio da grande semelhança que a vida e vocação da Santa Dulce dos Pobres teve com o testemunho evangelizador do jovem de Francisco de Assis. Assim como ele, Irmã Dulce cultivou um amor pela pobreza, enamorando-se do Cristo pobre, simples e crucificado.  
Neste contexto, aos treze anos de idade, Maria Rita desperta a vocação para a vida religiosa e deseja ingressar no convento. Todavia, o seu pai lhe sugere para esperar um pouco mais, pois ainda era muito jovem, pensando que era apenas uma vocação passageira e decisão precipitada. Contudo, ele se enganara, porque à medida que os anos passavam, Maria Rita nutria no coração o desejo de consagração, e seu comportamento denunciava o que pretendia. Buscava sempre o silêncio e a vida interior e, todos os dias, antes de ir para a aula na Escola Normal da Bahia, participava da missa na Igreja Santana, localizada na Rua do Carro, bairro de Nazaré, Salvador.  Aos quinze anos de idade, Maria Rita tenta entrar no convento sem comentar nada com a família. O pai descobre e, novamente, pede que ela tenha paciência e espere mais um pouco até terminar o curso de Magistério.
No dia 09 de agosto de 1932, Maria Rita forma-se como professora primária pela Escola Normal da Bahia. Ela dispensa toda a solenidade e gastos que teria com a formatura para investir nas despesas da sua entrada no convento. Depois de ter concluído mais uma etapa de sua vida, a única coisa que ela desejava naquele momento era o seu tão sonhado ingresso no convento.
É válido notar que, durante o tempo de amadurecimento vocacional, Maria Rita conhece a Ordem Terceira Franciscana, hoje conhecida como Ordem Franciscana Secular (OFS) e frequenta nolo-a durante, aproximadamente, quatro anos. Assim, em 15 de janeiro de 1933, faz a consagração e recebe o nome de Irmã Lúcia. Neste período, ela assimilou a espiritualidade franciscana, o que a motivou mais ainda para uma consagração total a Deus por meio da Vida Religiosa conventual.
Nesse mesmo ano, dia 08 de fevereiro, Maria Rita entra na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristovão – Sergipe. A despedida de Maria Rita não foi fácil. A separação de seus familiares para seguir a Vida Religiosa foi uma atitude bastante corajosa, como ela própria vai dizer posteriormente às suas filhas espirituais: “a vida religiosa exige muitas renúncias às quais começam a ser executadas no primeiro momento da decisão.”
Em uma carta direcionada à madre da sua congregação de origem, ela dizia: “quando chegamos ao convento, nascemos outra vez para viver somente para Jesus”. Logo, isso demonstra que, mesmo sendo difícil separar-se do pai e dos irmãos que tanto amava, ela tinha convicção do que estava fazendo, pois desejava “nascer” para uma vida de total doação e submissão à vontade de Deus.
Ao chegar no Convento do Carmo, em São Cristovão, Maria Rita e mais seis jovens entram no Postulantado (na época esta era a primeira etapa da formação inicial). Esta fase durava seis meses, nos quais as jovens tinham a oportunidade de aprofundar os conhecimentos acerca do carisma e espiritualidade da congregação, além de dedicarem-se aos trabalhos do dia a dia, à vida de oração e à vivência fraterna.
Conta-se que Maria Rita era muito responsável com as tarefas do Convento. Tinha uma grande atitude de humildade ao ser corrigida, era terna, companheira e bondosa; transmitia alegria, segurança e confiança. Sabia acolher e compreender as dificuldades de suas irmãs. Amava o silêncio, gostava de contemplar o céu, o mar e a natureza.
No dia 15 de agosto de 1933, Maria Rita e as demais postulantes são admitidas ao Noviciado. Nesta época era comum, na Vida Religiosa, mudar de nome. Assim, Maria Rita recebeu o nome de sua mãe, e passou a ser chamada de Irmã Dulce. Grande alegria invadiu o seu coração pelo fato de ter recebido o nome de sua mãezinha que partira com apenas 26 anos de idade para junto do Pai Eterno, mas que era tão presente na vida de Maria Rita.
Após um ano de Noviciado, exatamente no dia 15 de agosto de 1934, Irmã Dulce, com suas companheiras de Noviciado, faz a Profissão Temporária e emite, diante da sua família religiosa e da comunidade cristã, os votos de pobreza, castidade e obediência. No mesmo dia da profissão, as jovens professas souberam a quais comunidades da Congregação seriam enviadas.
Naquela época, não era comum enviar a jovem para seu estado de origem, porém, para grande surpresa de Irmã Dulce, ela fora enviada à cidade de Salvador, e desenvolveria a missão no Sanatório Espanhol. Neste local, ela atendia na portaria e ajudava na limpeza do hospital. Fez um curso de práticas de farmácia para aprender a manipular receitas e remédios, com vistas a desenvolver com mais eficácia a missão.
Irmã Dulce não ficou muito tempo no Hospital Espanhol; logo foi enviada para o colégio Santa Bernadete (colégio particular das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus) com o intuito de lecionar geografia para crianças. A escola era anexa ao convento da Penha, no bairro da Ribeira, Cidade Baixa, em Salvador.
Contudo, Irmã Dulce não estava tão satisfeita em sala de aula. Sentia que Deus a chamava para desenvolver outra missão. Ela dava aula, mas seu coração estava fora dos muros da escola. Sentia-se chamada a ir ao encontro dos pobres, formá-los e educá-los na fé, conhecê-los e fazer parte de suas vidas. Por isso, com a autorização da Madre Provincial, deixa o trabalho de professora e parte ao encontro dos pobres nas favelas e bairros periféricos de Salvador.
O trabalho com os pobres ganhou uma dimensão grandiosa e Irmã Dulce passou a ser reconhecida por todo o Brasil. De vários lugares do país vinham doações de gêneros diversos para o trabalho com os pobres. Contudo diante desta realidade positiva, as obras sociais também tinha suas inúmeras dificuldades como toda instituição.
A congregação a qual Irmã Dulce pertencia termia assumir a administração daquele hospital que naquele momento tinha expandido e ganhado o teor de uma Obra Social. Apesar de as Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus confiar na grande habilidade administrativa de Irmã Dulce, ainda assim elas se preocupavam com os débitos e crescimento das Obras Sociais.
No ano de 1964, houve uma eleição de uma nova madre provincial, esta era muito competente, preparada, mas intransigente no que se referia à observância da regra da congregação. Esta madre provincial passou a visitar as casas da provincia, em especial o convento Santo Antônio. E logo não acolheu bem o modo de vida que as suas irmãs estavam vivendo, na época Irmã Dulce morava com quatro co-irmãs e duas voluntárias.  E a madre provincial logo alegou que as irmãs precisavam viver com mais radicalidade a vida de clausura, porque segundo as constituições da congregacional todas as freiras deveriam viver a vida de contemplação. Além disso, ela alegou que as irmãs deveriam observar e viver mais a vida comunitária. Tudo isso foi uma grande pedra no sapato de Irmã Dulce, porém ela não desanimou de seus ideais, pois tinha apenas um desejo: realizar a vontade de Deus.
Assim a provincial decidiu transferir as irmãs e fechar o convento Santo Antônio. Irmã Dulce ficou muito triste e aflita. Com quem ficariam os seus doentes, pobres, crianças abandonadas? Logo ela recorreu imediatamente ao remédio da oração; pedindo ao Santo Espírito de Deus discernimento para ter forças e agir no momento adequado.  Em seguida ela buscou orientações de seu confessor, Frei Hildebrando e também de outros sacerdotes e religiosos. E todos lhe deram o mesmo aconselhamento: “Fique no seu lugar”. Mais tarde Irmã Dulce  direcionando uma carta a sua madre provincial até revela que: “Vários sacerdotes e outras pessoas me solicitaram que eu me filiasse a um outra congregação ou fundasse uma nova. Não aceitei, renovando sempre, no íntimo do meu coração, a minha primeira escolha.” 
Então, após um sério discernimento e intimidade com Cristo através da oração Irmã Dulce marca uma audiência com a madre superiora e pediu-a mais um tempo para pensar; na verdade Irmã Dulce não queria deixar os seus pobres, pois tinha a conficção que abandonar aquele que mais necessitava de nossos cuidados e atenção é abandonar o próprio Cristo. Ela tinha a compreensão de que o que fazermos ao próximo, tem também uma dimensão transcendente (cf: Mt 25, 40), a nossa redenção como diz o papa Francisco no documento: A alegria do evangelho, “tem sentido social, porque Deus, em Cristo, não redime somente a pessoa individual, mas também as relações entre os homens (p.147). Portanto  Irmã Dulce acreditava que a misericórdia, a caridade e atenção para com os necessitados eram a chave da porta do céu.
Mas a provincial estava com o coração endurecido, e com muita intransigência orientou a Irmã Dulce a pedir para ser desenclausurada. O objetivo da madre provincial era proteger a congregação do grave perigo que as Obras Sociais poderia apresentar, pois o seu crescimento poderia logicamente proporcionar grandes dificuldades relacionadas a diversas estâncias administrativa ou não.
Muito triste com tudo que acontecia, Irmã Dulce recorreu ao Dom Eugênio  Araújo Sales, bispo da arquidiocese de Salvador, pois aquela altura ele era o único que poderia tentar resolver sua situação, uma vez que a própria congregação já havia lhe dado o aval de tudo.
O bispo Dom Eugênio, buscando orientações de terceiros concluiu que Irmã Dulce não poderia abandonar as Obras Sociais porque acarretaria uma repercussão negativa sobre a Igreja e toda a nação brasileira. Além disso, ele percebeu a situação do pedido de desenclaustração de Irmã Dulce a partir de outro ponto de vista, pois o que se tinha como uma atitude de desobediência, na verdade era um desobedecer em prol do bem comum. Isto revelava, desde já, indícios da santidade daquela pequena freira que com coragem e grande ardor missionário quebrou alguns paradigmas religiosos e sociais, tão somente para favorecer o bem está da população mais carente da sociedade de sua época.
Enfim, Irmã Dulce foi desenclaustrada e a comunidade do convento Santo Antônio dissolvida; as suas co-irmãs foram enviadas para outras comunidades e Irmã Dulce permaneceu no convento Santo Antonio sozinha, isto é, com nenhuma irmã de congregação. Mas duas voluntárias permaneceram morando com ela, e duas irmãs biológicas dispensaram-lhe grande ajuda, sobretudo no trabalho com os pobres e enfermos do Hospital Santo Antônio. Além disso,  o bispo de Salvador, Dom Eugênio  responsabilizou-se diretamente por ela e a apoiou no trabalho junto aos pobres na cidade de Salvador.
Mas mesmo após este evento, da desenclaustração, os problemas não tinham se resolvido por completo, uma das co-irmãs  de irmã Dulce sugeriu que ela não permanecesse com o hábito da congregação por conta do desenclaustro, mas decididamente  Irmã Dulce logo se manifestou contra esta proposição e disse: “Nunca tive a intenção de me separar, nem nunca terei. Quero morrer como religiosa, membro da nossa congregação.”
Sendo assim, ocorreu que no ano de 1965 Irmã Dulce ficou desenclautrada. Sua despedida das co-irmãs que a acompanhava no trabalho aos pobres foi marcada por grande tristeza e a partir de então toma mais força os seus momentos de noite escura, de solidão. Porém o que lhe fortalecia diariamente era a oração, bem como a certeza que sempre tinha de que: “Nada na vida deveria dificultar o nosso caminho em direção ao céu. Tristeza, desconforto, dúvidas, problemas de qualquer espécie, nada disso deve contribuir para o enfraquecimento da nossa vocação” ( Posterior carta de Irmã Dulce às suas filhas espirituais, 18/01/1984).
A dor de Irmã Dulce foi grande, mais maior foi a graça de Deus em sua Vida. Como ela mesma dizia: “Deus é o nosso organizador, o cérebro que tudo pensa e executa.” E assim ela fez, deixou o Pai Eterno executar o seu plano divino em sua vida, e soube muito bem equilibrar as emoções e ser resiliente a todas as dificuldades que tinha que enfrentar pois tinha a conficção de que: “O essencial em nossas vidas é ter Deus no coração, porque Deus é como nossa respiração, não pode nos faltar, sem Ele não temos vida.” E assim, ela acolhia tudo com um tímido sorriso, sem guardar resentimentos ou qualquer tipo de emoção negativa; não murmurava e se deixava ser apenas um “simples e humilde instrumento nas mãos de Deus.”
Após dez anos de desenclaustração Irmã Dulce em 1975 pede a madre provincial para voltar a ser reintegrada à sua amada congregação, pois, como já se sabe, o seu objetivo não era sair da sua congregação, mas achar uma forma de conciliar a sua vida em comunidade e a assistência às Obras Sociais.
Logo, foi admitida à comunidade e tem novamente a presença de suas co-irmãs no Hospital Santo Antônio compartilhando consigo a missão de servir a Jesus Cristo através dos enfermos, pobres e desabriagados.
A medida que o tempo passava, a sua Obra crescia, ou melhor a obra de Deus, como era acostumada dizer Irmã Dulce para as pessoas.  E assim o trabalho se multiplicava e era cada vez mais reconhecido na nação brasileira.  E  o amor de Irmã Dulce crescia cada vez mais pelos necessitados, a ponto de dizer: "nós vivemos não a nossa vida, mais a daqueles que Deus nos confia a ter a responsabilidade de cuidar e  amar."